Bertrand Lira

Bertrand Lira é cineasta e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB/Campus I
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Para o filme ‘Fortaleza Hotel’ a solidariedade é universal e dirime diferenças

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O novo longa-metragem do cearense Armando Praça, ‘Fortaleza Hotel’ (2021, 77min) estreou esta semana, dia 27, em onze cidades brasileiras com distribuição da Vitrine Filmes, mas sem previsão de chegar às plataformas de streaming. O filme narra a história de Pilar (Clébia Sousa), camareira do Fortaleza Hotel onde conhece a sul-coreana Shin (Lee Young-Lan), uma mulher de meia-idade que está na capital cearense para buscar o corpo do marido, mas a burocracia e os preços absurdos do translado para o seu país a coloca em uma situação desesperadora. 

O encontro dessas duas mulheres resulta em empatia e solidariedade. Pilar está se preparando para imigrar para Dublin e vivendo uma relação complicada com a sua filha, a adolescente Jamile (Larissa Góes), que termina se envolvendo com um namorado marginal. Por uma dívida não paga, seus comparsas sequestram a garota exigindo o pagamento de uma soma para libertá-la. Sem saída, Pilar faz o possível para evitar ao assassinato da filha, inclusive deixando de lado seus princípios morais.

Pilar e Shin protagonizam esse drama que tem como cenário uma Fortaleza sombria, que a à margem da luminosa cidade litorânea e de seus cenários turísticos. A jornada dessas duas mulheres segue, na maioria das vezes, pelos becos e vielas dos bairros marginalizados da cidade, com uma direção de fotografia primorosa de Heloísa os: Shin em busca de liberar e transladar o corpo do marido e Pilar tentando salvar a filha. O encontro das duas se dá no hotel onde Pilar trabalha e Shin se hospeda.

Nesse trajeto doloroso, empatia, solidão, solidariedade, amizade, conflitos morais e até traição constroem a relação de Pilar e Shin, ambas fragilizadas pela contingência dos acontecimentos inesperados em suas vidas. Comovida com o drama de Shin, estrangeira num país de costumes e línguas diferentes, Pilar lhe oferece seus serviços amadores de tradutora.  São essas diferenças que serão superadas pela força da solidariedade e empatia pela dor do outro. No entanto, a idealização dessa relação é abalada quando a honestidade de Pilar é colocada à prova.   

O roteiro de ‘Fortaleza Hotel’, assinado por Isadora Rodrigues e Pedro Cândido, nos envolve sutilmente também pela empatia que estabelecemos com as personagens Shin e Pilar, sobretudo Shin, perdida numa cultura estranha à sua. Apesar de uma impactante reviravolta no enredo, o filme traz alguns momentos de tempos mortos e contemplação, sem, contudo, entediar o espectador mais afeito às narrativas mais contemplativas e longe das ações mirabolantes. O diretor Armando Praça, 44 anos, cearense de Aracati, já havia demonstrado sua sensibilidade para dramas intimistas no seu primeiro longa. 

‘Fortaleza Hotel’ é o segundo longa-metragem do diretor. ‘Greta’ (2019), seu primeiro longa, teve uma boa carreira em festivais. No festival Internacional de Cinema de Berlim foi agraciado com Teddy Award de Melhor Filme em 2020. O Teddy é um prêmio dedicado aos filmes de temática LGBTI+. Antes, ‘Greta’ estreou na 29ª edição do Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema e foi reconhecido com o troféu Mucuripe de Melhor Longa-Metragem e os prêmios de Melhor Direção e Ator (para Marcos Nanini) No Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2020, Praça recebeu por ‘Greta’ o prêmio de Melhor Primeira Direção de longa-metragem, Melhor Roteiro Adaptado (Armando Praça) e Melhor Montagem (Karlen Harley). 

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