Angélica Lúcio

Angélica Lúcio é jornalista, com mestrado em Jornalismo pela UFPB e MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente, atua na Comunicação Social do HULW-UFPB/Ebserh como jornalista concursada.
Angélica Lúcio

O que aprendi sobre perfil com Sergio Vilas-Boas 

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O perfil integra a categoria dos textos noticiosos chamados de feature, pois vai além do que é factual ou imediato no noticiário. No livro “Perfis – o mundo dos outros” (editora Manole), de Sergio Vilas-Boas, temos que o perfil, considerado gênero nobre do Jornalismo Literário, é um tipo de texto biográfico sobre uma – uma única – pessoa viva, famosa ou não. “A arte do perfil (…) reside exatamente na vida presente que possui um ado”. 

Lançada em 2014, mas comprado por mim só agora, a obra de Vilas-Boas reúne 22 personagens e um ensaio intitulado “A Arte do Perfil”. De Tostão a João Ubaldo Ribeiro, de Manoel de Barros a Gabriel García Márquez, o livro presenteia o leitor com histórias que, mesmo levemente datadas (como citado, aliás, no texto de apresentação), conseguem prender a atenção do leitor, dado o lirismo da narrativa. 

O próprio jornalista aborda essa questão no ensaio que encerra a obra. “Na tradição clássica do Jornalismo Literário, o texto-perfil é relevante por sua durabilidade e narratividade. Mesmo que meses ou anos depois da publicação o protagonista tenha mudado suas opiniões, conceitos, atitudes e estilo de vida, o texto pode continuar despertando interesse”. 

A seguir, listo algumas anotações resumidas pelo próprio autor sobre o gênero perfil, ou texto-perfil, como adota Vilas-Boas:

  • Todo perfil é biográfico e autobiográfico, porque também diz algo a respeito do autor;
  • Perfil não é a palavra final sobre alguém;
  • O “retrato” nunca será 100% natural nem 100% espontâneo;
  • Proponha o perfil para seu editor/editora somente depois de conhecer um pouco o personagem que você escolheu. A singularidade é decisiva;
  • Não idealize o seu personagem. As pessoas são o que são. E que assim sejam;
  • Busque o universal no singular (e vice-versa);
  • A narrativa toda tem de girar em torno dele/dela, ou não será um texto-perfil;
  • Não use seu personagem para outros objetivos que não o de compreendê-lo;
  • Crie empatia com as pessoas envolvidas no processo. Com todas;
  • Não imponha ao leitor as suas vagas noções sobre o que constitui uma qualidade ou um defeito;
  • Saiba que você está lidando com lembranças e esquecimentos;
  • Frequente os lugares que seu personagem frequenta;
  • Procure pessoas (próximas ou não) que têm algo a dizer sobre o protagonista;
  • Preste atenção no verbal e no não verbal. Até o silêncio diz muito;
  • Faça o possível para examinar/analisar o seu material no mesmo dia em que ele foi coletado;
  • Escreva sobre a fase atual do seu personagem. O presente é o que dá a força-motriz do texto-perfil, já que se trata de uma pessoa viva;
  • Mescle episódios da fase atual com episódios remotos;
  • Selecione apenas alguns episódios: melhor um episódio bem contado do que dez sinopses;
  • Valorize o que ocorreu em seus encontros com a(s) pessoa(s);
  • Forneça o máximo possível de detalhes relevantes.
  • Mescle narração com descrições (físicas e psicológicas);
  • Ouça as opiniões de seu personagem sobre o campo em que ele/ela atua.

O ensaio completo de Sergio Vilas-Boas também está disponível na internet (https://sergiovilasboparlamentopb-br.informativoparaibano.com.br/thinking/a-arte-do-perfil/). Mas sugiro que você adquira o livro, para poder desfrutar melhor dos ensinamentos e de cada perfil escrito pelo autor. Ou simplesmente para guardar bem dentro do coração esse importante ensinamento: “Em jornalismo, o ponto de vista é sempre humano”.   

    

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