Angélica Lúcio

Angélica Lúcio é jornalista, com mestrado em Jornalismo pela UFPB e MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente, atua na Comunicação Social do HULW-UFPB/Ebserh como jornalista concursada.
Angélica Lúcio

O que aprendi com Nina Berman sobre imagens de vítimas de violência sexual

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O cuidado na exposição de pessoas em situação de vulnerabilidade devido à violência sexual envolve questões éticas, mas vai além. Quando veiculamos imagens de uma sobrevivente, precisamos levar em consideração como ela se sente em relação ao tema e como irá reagir ao ver sua foto (ou imagens de parte de seu corpo) publicada. Imaginamos que mostrar apenas parte do corpo da vítima pode mantê-la no anonimato, mas há casos de pessoas que já foram identificadas pelos olhos ou pela roupa. 

Ao pesquisar sobre o tema, encontrei um artigo da fotógrafa Nina Berman que me parece muito instrutivo. Nina é fotógrafa documental, cobriu conflitos na Bósnia e no Afeganistão e atua como professora de jornalismo na Universidade Columbia. O texto que li se refere ao contexto de Violência Sexual Relacionada a Conflitos (VSRC), porém também se aplica a várias situações de produção de imagens de pessoas em condição de vulnerabilidade (mulheres, homens, meninos e meninas). 

Berman defende que imagens de estupro em conflitos e de sobreviventes de estupro precisam ser feitas e vistas amplamente. Mas desde que produzidas da forma correta. “Elas só precisam ser feitas de formas diferentes de modo a proteger as pessoas, respeitar o contexto e não perpetuar estereótipos”. 

Na era digital — Nina nos lembra —, as imagens têm uma vida útil que vai além da pauta. Por isso, “é crucial que as sobreviventes entendam como vão ser apresentadas visualmente e quais são as implicações disso”, ressalta. 

Além dessa dica, ela aponta mais algumas que todos nós devemos levar em consideração, buscando fazer escolhas visuais mais eficientes e éticas: 

  • Há uma justificativa forte para identificar sobreviventes ou é mais seguro começar com o anonimato?; 
  • As sobreviventes deram seu consentimento consciente para serem fotografadas ou filmadas? Elas entendem o alcance das redes sociais?; 
  • Há algo na imagem que poderia inadvertidamente revelar suas identidades?; 
  • Como eu posso colocá-las em uma imagem de modo que elas se sintam confortáveis com o resultado final? ; 
  • E a verificação de ética básica: eu ficaria satisfeita se eu ou uma pessoa da família fôssemos fotografadas ou filmadas desse modo? 

Além disso, Nina também nos leva a refletir sobre consentimento, inclusive na hora de produção das imagens. Pode ser que a vítima queira ter alguém ao lado dela nesse momento, ou não. Após as imagens terem sido feitas, a orientação é que sejam mostradas às sobreviventes para permitir que elas digam se estão satisfeitas com a forma como foram registradas. “Assegure-se de que as sobreviventes entendam que as imagens podem circular por muito tempo e que podem ser compartilhadas em diferentes plataformas, inclusive nas comunidades das quais elas fazem parte”, destaca.

Em relação ao tipo de imagem que muitas vezes é publicada, Nina Berman levanta ainda outra questão essencial: a responsabilidade de quem escolhe a foto que será veiculada. “Fotógrafos interagem com sobreviventes e tomam decisões sobre escolhas visuais. Mas cabe aos editores a decisão final sobre quais imagens devem ser feitas e escolhidas a partir de um conjunto de fotos antes delas chegarem ao público. O que pode ser apropriado para uma página interna — onde há significado e contexto — pode ter um significado completamente diferente se for usada sozinha em uma capa ou em um post no Instagram”, pontua. 

Para quem tiver interesse em saber mais sobre o tema, recomendo a leitura do artigo completo de Nina Berman (Como usar imagens em matérias sobre violência sexual), que está disponível no site da Rede de Jornalistas Internacionais. 

 

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