EUA votam com medo de eleição descambar para violência armada

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Os Estados Unidos se preparam para as eleições desta terça-feira (3) como quem assiste a um filme de suspense, à espera de que algo assustador aconteça.

A rede de lojas Walmart retirou armas e munições de suas estantes. Na região central de Washington, as janelas de cafés e restaurantes estão cobertas por tapumes.

A Universidade George Washington, também na capital, pediu a seus alunos que estoquem comida suficiente para uma semana. Patrulhas policiais devem ser incrementadas.

O receio —verbalizado há semanas por especialistas em segurança— é de que o pleito descambe para algum tipo de violência. Há diversas possibilidades. Grupos radicais podem comparecer armados às urnas para intimidar eleitores. Preocupa também que milícias se recusem a aceitar uma eventual derrota do republicano Donald Trump e marchem nas ruas do país.

Esses cenários racham, de certo modo, a imagem que os Estados Unidos têm de si. Analistas estudaram, no ado, a insegurança de países distantes. Encheram a boca para apontar defeitos no processo eleitoral de outrem. Agora, olham para o umbigo.

Devin Burghart diz que nunca viu tamanho risco desde que começou a acompanhar esse tema, há 25 anos. O Instituto para Pesquisa e Educação em Direitos Humanos, de que é diretor-executivo, monitora grupos radicais de direita. Com base em sua pesquisa, Burghart afirma que os estados mais ameaçados são Geórgia e Nevada. Em segundo lugar aparecem Michigan, Pensilvânia, Wisconsin, Arizona e Virgínia.

Alguns desses são justamente os lugares em que a eleição pode ser decidida, o que agrava a situação. Quanto mais apertado for o resultado, maior é a chance de grupos radicais se incomodarem com ele —e resolverem agir.

“A maior diferença em relação aos anos anteriores é a escala e a diversidade dos grupos envolvidos”, Burghart afirma. Ele cita, por exemplo, os extremistas Proud Boys (garotos orgulhosos), que Trump se recusou a condenar publicamente durante um debate eleitoral. Os paramilitares Oath Keepers (guardiões do juramento) também preocupam analistas de segurança.

Algumas dessas facções radicais afirmam acreditar que uma nova guerra civil, como aquela travada durante o século 19, é possível. Mais do que isso, esperam ansiosamente pelo conflito. Dizem, afinal, que é a única maneira de corrigir os rumos do país.

Essas ideias podem parecer, a princípio, alarmistas. Mas há razão para tal alarme. As autoridades recentemente desvelaram planos para sequestrar Gretchen Whitmer, governadora de Michigan, e Ralph Northam, governador da Virgínia. Ambos são democratas.

Grupos armados falam abertamente em ir às urnas para fazer o que eles chamam de “monitoramento” e que especialistas dizem ser uma clara tentativa de intimidação. O porte de armas nas urnas é permitido em diversas partes do país, como Michigan.

Desde o começo da pandemia da Covid-19, o país tem inclusive se armado mais e mais. Segundo o jornal Washington Post, americanos já compraram 18 milhões de armas em 2020. No estado de Michigan, as vendas triplicaram em comparação com 2019.

Preocupa também, segundo Burghart, que depois das investigações em Michigan e na Virgínia movimentos radicais decidiram abaixar o tom e evitar o radar das autoridades.

“Grupos paramilitares estão tirando a roupa camuflada e colocando o boné vermelho”, afirma, referindo-se ao chapéu utilizado por seguidores do mote republicano MAGA (faça a América grande outra vez, na sigla em inglês).

Misturados às massas que apoiam o presidente Trump, eles ganham margem de manobra. Fica mais difícil, assim, as autoridades saberem de onde vai vir a violência —que elas já dão por certa.

“As coisas estão mudando rapidamente”, diz Burghart. “A instabilidade, ademais, pode tomar diversas formas. Uma delas é com a ida de apoiadores do presidente Trump às urnas sem máscaras,
justamente durante uma pandemia histórica. Eles esperam criar polêmica e, assim, desacelerar as filas e desencorajar os eleitores a votar.”

Essas preocupações são inéditas no país, que se acostumou a ver as eleições como um momento de celebrar sua suposta excepcional democracia. A situação é particularmente grave neste ano, diz Burghart, devido ao comportamento de Trump. “Ele não apenas se recusou a condenar os movimentos radicais e racistas que o apoiam, mas pediu que seus eleitores fossem às urnas monitorar o voto.”

O republicano também colocou em dúvida a própria credibilidade do processo eleitoral americano. Em setembro, por exemplo, afirmou durante um comício que os democratas só venceriam roubando. Isso motiva grupos radicais a esperar fraudes e, no caso de derrota, refutar os resultados oficiais do pleito.

Trump, claro, contesta essa interpretação. Quando questionado sobre o tema, faz questão de dizer que o risco real vem de grupos de esquerda como o movimento Black Lives Matter (vidas negras importam) ou o Antifa.

“Mas nós não vemos nenhum indício de que isso seja verdade”, Burghart explica.

O democrata Joe Biden chegou a sugerir que os republicanos fossem trapacear, mas rapidamente foi a público para insistir na confiabilidade do processo eleitoral americano, algo que Trump não quis fazer de jeito nenhum.

Megan Squire, outra especialista em movimentos radicais de direita, tem acompanhado as conversas em grupos online, nos quais identifica um tom bastante esquentado —justamente no sentido de milicianos planejarem ir às ruas para “proteger” as eleições de um resultado de que discordem. “A temperatura está altíssima”, diz.

Uma caminhada nos arredores da Casa Branca serve de ilustração para a quentura indicada por Squire. Antes da pandemia e dos protestos deste ano contra a violência policial, era possível chegar perto da sede do poder americano. Grades, muros de concreto e policiais armados impedem, hoje, que alguém se aproxime de um dos símbolos da democracia.

 

Folha de S. Paulo

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