Defasagem no Imposto de Renda faz quem ganha menos pagar quase 2.000% a mais

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram

A falta de correção da tabela do Imposto de Renda (IR) combinada com o aumento da inflação no Brasil tem gerado um aumento histórico da tributação sobre a população com menor poder aquisitivo.

Essa é a conclusão tirada de um estudo feito pelo Sindifisco Nacional, que representa os auditores-fiscais da Receita Federal.

De acordo com uma simulação feita pela entidade, uma pessoa que recebe R$ 5.000, após deduções, paga atualmente R$ 505,64 de IR. Se toda a defasagem da tabela fosse corrigida, esse valor cairia para R$ 24,73 —uma diferença de quase 2.000%.

Em caso de reajuste, apenas pessoas que ganham acima de R$ 4.670,23 ficariam obrigadas a pagar IR. Isso significa que mais 12,75 milhões de brasileiros estariam isentos do pagamento, chegando a 23,84 milhões ao todo. Hoje, a isenção é dada ao trabalhador que ganha até R$ 1.903,98.

No topo da pirâmide, entre os contribuintes que ganham R$ 100 mil ao mês, a diferença percentual entre corrigir ou não a tabela seria bem menor, de cerca de 5%. A diminuição do imposto pago seria dos atuais R$ 26.630,64 para R$ 25.352,85, segundo a simulação do Sindifisco.

“Não corrigir a tabela é uma forma de aumentar o imposto para essa numerosa parcela da população que, além de arcar com o IR, precisa também lidar com os tributos indiretos, que incidem sobre o consumo”, disse presidente do Sindifisco Nacional, Isac Falcão.

Mauro Rochlin, economista e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), destaca que, na medida em que o IR não é reajustado, a inflação acaba onerando mais as pessoas de menor renda porque são as que menos poupam e que menos têm condições de se defender da alta de preços.

“A renda dessa pessoa é praticamente toda voltada para consumo e, na medida em que a receita não está acompanhando a inflação, ela é relativamente mais penalizada do que aquelas que têm maior renda, que podem com o restante de sua renda fazer aplicações financeiras e escapar da alta de preços”, afirma.

No acumulado de 12 meses até junho, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) chegou a 11,89%. No mês, a inflação subiu 0,67% com alta de alimentos fora de casa e plano de saúde, segundo informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A inflação de cada período faz uma grande diferença no cálculo da defasagem. Entre especialistas, o congelamento da tabela é visto como uma estratégia política.

“A não-correção da tabela progressiva do IR é uma forma de se aumentar a arrecadação sem que o Poder Executivo tenha custo político associado à majoração de alíquota, por exemplo”, disse o vice-presidente do Sindifisco Nacional, Tiago Barbosa.

“É só deixar a inflação agir sem mexer nas faixas que a correção monetária da renda auferida pelos contribuintes causa aumento no tributo pago. Ou seja, trata-se de um tributo oculto que o governo não quer abrir mão”, acrescentou.

O levantamento feito pelos auditores da Receita mostra que a defasagem da tabela do IR chegou a 147,37%, considerando o período de 1996 –ano em que deixou de sofrer reajustes anuais– a junho deste ano. Antes, nos anos de inflação descontrolada, a tabela sofria reajuste automático por um indexador, a Ufir (Unidade Fiscal de Referência).

Renda mensal, em R$ Imposto a recolher (tabela vigente), em R$ Imposto a recolher caso tabela fosse corrigida, em R$ Diferença, em %
1.903,98
2.000,00 7,20
2.500,00 44,70
2.570,00 49,95
3.000,00 95,20
4.670,23 414,95
5.000,00 505,64 24,73 1.944,64
6.000,00 780,64 99,73 682,75
7.000,00 1.055,64 179,73 487,35
8.000,00 1.330,64 329,73 303,55
10.000,00 1.880,64 683,12 175,30
11.002,40 2.156,30 908,66 137,31
12.500,00 2.568,14 1.290,35 99,03
15.000,00 3.255,64 1.977,85 64,61
20.000,00 4.630,64 3.352,85 38,11
25.000,00 6.005,64 4.727,85 27,03
30.000,00 7.380,64 6.102,85 20,94
40.000,00 10.130,64 8.852,85 14,43
50.000,00 12.880,64 11.602,85 11,01
100.000,00 26.630,64 25.352,85 5,04

Foi no segundo ano do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que a atualização anual deixou de ser feita. A partir da gestão tucana, a correção ou a ser feita de maneira inconstante, como em 2002 e, nos governos do PT, entre 2005 e 2015 —último ano em que houve reajuste.

Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), a defasagem está acumulada em 26,6% até junho, segundo dados do Sindifisco. O valor está acima de qualquer outro presidente desde a implementação do Plano Real. Segundo a entidade, nenhum outro chefe do Executivo realizou a correção integral da tabela do IR.

A tabela de cobrança do IR é a mesma há sete anos, quando o salário mínimo era de R$ 788. Com a previsão de um salário mínimo de R$ 1.294 em 2023, em texto aprovado da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), os brasileiros que receberem R$ 1.941 (1,5 salário mínimo) terão de pagar IR a partir do ano que vem, caso a tabela não seja corrigida.

A defasagem faz também com que muitos contribuintes mudem de faixa de renda após reajustes salariais, ainda que abaixo da inflação, e em a pagar uma alíquota mais elevada em relação ao ano anterior.

“O imposto se torna mais regressivo, porque a pessoa muda de faixa salarial sem que tenha tido ganho real de renda. Com isso, ela está sendo mais onerada por força do imposto. Esse é mais um motivo pelo qual a não-correção do Imposto de Renda penaliza as pessoas de menor renda”, disse Rochlin.

Promover a correção da tabela do IR foi um compromisso assumido por Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018, ainda não concretizado.

O projeto de lei da Reforma do IR, o PL 2.337 de 2021, defendido pelo ministro Paulo Guedes (Economia), previa a correção da tabela, mas a proposta tinha itens polêmicos, como a taxação de lucros e dividendos. O texto está parado no Congresso. Neste ano, o governo não vê mais espaço para implementar a medida, dizendo haver entraves da lei eleitoral.

 

 

 

Folha Online

Tags

Leia tudo sobre o tema e siga

MAIS LIDAS

Após ataque de Israel ao Irã, Cícero Lucena é mantido em bunker e não tem previsão de volta

Anteriores

ambulancia FOTO Pixabay

Turista morre vítima de mal súbito no São João de Campina Grande

criança mata mae tiro acidental mato grosso do sul

Criança de 2 anos pega arma do pai e mata a mãe com tiro acidental em MS

Bilhetes de aposta da mega-sena

Bolões da Paraíba somam R$ 28 mil ganhos em sorteio da Mega-Sena

doacao sangue FOTO Pixabay

Dia Mundial do Doador de Sangue: uma única doação pode salvar três vidas

limao_com_mel_2023

Limão com Mel, Mastruz com Leite e Cavalo de Pau se apresentam no São João de Campina Grande

cicero_lucena_foto_divulgacao_secom-jp

Israel: Itamaraty tenta retirada de Cícero Lucena e outros políticos brasileiros via Jordânia

joaodefesacivil

João Azevêdo, juntamente com Lula, participa de ativação do novo sistema Defesa Civil Alerta no NE

joelma cantora FOTO redes sociais

São João de Campina Grande tem shows de Joelma e Alok neste sábado

simone mendes cantora ganha galinha sao joao campina grande

Simone Mendes ganha galinha de presente em show no São João de Campina Grande

giroflex sirene FOTO Pixabay

Deputada é morta e senador estadual é baleado em ataque nos Estados Unidos